Realiza-se desde
ontem, na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, o 1º Fórum Mundial da Bicicleta.
A ideia partiu de um grupo de cidadãos e cidadãs de Porto Alegre que utilizam a
bicicleta no dia a dia como meio de transporte.
A data escolhida não é
ocasional: amanhã, dia 25 de fevereiro, um ano se completa do atropelamento
coletivo ocorrido na Rua José do Patrocínio. Mas, além de marcar essa data, o
Fórum Mundial da Bicicleta se pretende propositivo na busca de ideias e soluções
para tornar as cidades mais humanas.
Durante os painéis, passeios,
oficinas, shows, a bicicleta estará contemplada em suas mais variadas
dimensões: mobilidade urbana, educação para a paz no trânsito, democracia
direta, sustentabilidade, cooperação, solidariedade, cycle chic, mecânica
básica, a bicicleta na economia, esporte, cicloturismo e por aí vai.
Mas há algo igualmente
relevante e transformador que marcou toda a organização deste encontro
internacional: a horizontalidade e a ausência de “donos” do evento. Com efeito,
as assembleias nas quais a organização do evento ocorreu foram realizadas todas
as segundas-feiras, abertas para quem quisesse participar. Só não soube das
reuniões quem não acompanha o mundo da bicicleta em Porto Alegre. Quem participava,
e de alguma forma se dispusesse a ajudar, se tornava um organizador.
Naturalmente, como o grupo
sempre foi muito numeroso, o fórum conta com o trabalho voluntário de
designers, programadores, assessores de imprensa e muitos outros profissionais
que colaboraram para colocar de pé um evento tão singular e importante.
Singular também foi a forma
como os recursos foram arrecadados: através de um vídeo coletivo postado no
site catarse.me foi possível, através da colaboração financeira de muitos
internautas e algumas entidades, pagar passagens aéreas e outros custos
necessários ao evento. A meta de R$ 3,5 mil foi rapidamente alcançada e
superada.
Mas um evento desta
importância só ocorre quando se legitima socialmente. Neste caso, muito
provavelmente a legitimação desta iniciativa é a perda de qualidade de vida nas
grandes cidades, e com Porto Alegre não é diferente. Além da poluição, a
quantidade de horas perdidas dentro dos automóveis em razão dos
congestionamentos – o automóvel é uma espécie de “caixa” que isola o motorista
do contato real com a cidade e com as outras pessoas.
Desde o atropelamento coletivo
na Cidade Baixa, notícia que alcançou os quatro cantos do planeta,
incrivelmente a quantidade de ciclistas se locomovendo pelas ruas de Porto
Alegre aumentou. E nem isso foi capaz de sensibilizar os gestores municipais.
A política implementada pela
atual gestão municipal revela a cultura “carrocêntrica” dos atuais ocupantes do
paço municipal. Com efeito, a ciclovia da Ipiranga está sendo construída sobre
o canteiro para não “atrapalhar o trânsito”. Poucas pessoas sabem que os
ciclistas precisarão mudar cinco vezes de lado até chegar à PUC, o que fere um
dos princípios básicos de toda ciclovia: a directibilidade. Mais uma ciclovia
que corre o risco de servir apenas para lazer.
Pior: o Plano Diretor
Cicloviário Integrado – Lei Complementar Municipal 626/2009 – que prevê a
destinação de 20% das multas de trânsito para construção de ciclovias nunca foi
cumprido. Enquanto isso, o prefeito vibra com os estacionamentos subterrâneos
que serão construídos – o que aumentará o fluxo de veículos no centro da cidade
– e acredita que duplicar algumas ruas vai resolver o problema da mobilidade
urbana. Definitivamente, estamos na contramão da História e das soluções inteligentes
para melhorar a vida das pessoas nas grandes cidades e torná-las mais humanas.
*Advogado
e ciclista urbano, diretor do Laboratório de Políticas Públicas e Sociais –
Lappus, um dos organizadores do 1º
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